quarta-feira, 13 de maio de 2015

Série Estudando Fora - Edição Coreia do Sul


Mais uma edição da Série Estudando Fora!!

Dessa vez, a entrevista é com o Thiago, que está fazendo intercâmbio em um destino nada óbvio: Coreia do sul!

Fiquei muito feliz quando ele topou participar da série justamente por falar de um país tão diferente do nosso e que, consequentemente, poucos escolhem como destino pra realizar um intercâmbio.

Se você estiver pensando em escolher um país totalmente fora do circuito tradicional, acho que vai querer se jogar sem medo depois de ler essa entrevista!

Se quiser acompanhar mais de perto as aventuras do Thiago em Seul, fiquem sempre de olho no blog dele, o 'Sou seu, Seoul', onde ele conta todas as experiências que está vivendo lá!

Vamos ver!

***Estudando na Coreia do Sul***




Perfil

Nome: Thiago Mattos Moreira

Idade: 22

País e cidade onde está morando: Seoul, Coreia do Sul

Universidade onde você está estudando: Hanyang University

O nome do seu curso: Dipomacy & Politics aqui, Relações Internacionais no Brasil

Marque uma das opções abaixo:

[x]graduação  [  ]mestrado




Acadêmico

Você sempre quis estudar fora do Brasil?

Sim, desde pequeno.




Qual foi a maior diferença que você notou entre estudar no Brasil e estudar no país onde está agora? Quais foram as maiores dificuldades?

Durante o ensino médio e o fundamental os coreanos são massacrados com toneladas e toneladas de aulas e cursos. O “normal” é que durante a maior parte do ensino básico o coreano de classe média tenha uma jornada tripla de estudos totalizando  até 14h por dia (!): o colégio público e ao menos duas academias particulares preparatórias. Há ainda um crucial agravante: estas aulas são via de regra extremamente unilaterais, ou seja, os alunos não interagem de forma alguma e devem assimilar de forma quase robótica o que é apresentado. A pressão em ser ou não aprovado para uma faculdade de prestígio é tanta que levou o país a ter a maior taxa de suicídio do mundo.

Chegando ao ambiente universitário, o resultado não podia ser outro: aluno com um profundo conhecimento sobre os mais diversos temas, mas com zero capacidade argumentativa ou oral (alem de um desejo irrefreável de beber até entrar em coma alcoólico), algo inaceitável para o atual mercado de trabalho em qualquer lugar do mundo. Deste modo, a maioria das faculdades da Coreia foca em ensinar os alunos a serem mais aptos nestes quesitos: em grande parte das aulas e apresentações, trabalhos em grupo são obrigatórios (dá para sentir o extremo desconforto dos alunos coreanos nessas atividades).

É nítido que, na maioria das aulas, o objetivo é ajudar você a obter um bom emprego e não necessariamente a curiosidade académica (como alguns coreanos confessaram com alguma frustração), o que no meu caso foi bastante construtivo, já que no Brasil sempre senti um pouco de desamparo da minha faculdade em ajudar a ser conectado com “o mundo real”.



O pessoal na universidade foi receptivo?

Existem vários comités de recepção que botam você em contato com coreanos que querem interagir com estrangeiros já que esse primeiro movimento pouco provavelmente aconteceria de forma orgânica na Coreia. Dá certo. Fiz um bom número de amizades coreanas que me ajudaram a me safar de vários perrengues da barreira lingüística.


Nota da Laís: O Thiago ficou viciado nas meias 
super divertidas que eles vendem lá!


O que as pessoas daí acham do Brasil?

Olha, eles não sabem muita coisa não. Existe um fascínio muito grande pela Europa e EUA (existem mais cafés “franceses” e Starbucks em Seoul do que em Paris e Nova Iorque, apesar de todos serem devidamente adaptados ao gosto coreano), mas fora os entusiastas de futebol e os que sabem a letra de “ai se eu te pego”, o desconhecimento total é a regra para  o Brasil e qualquer país fora desse eixo. Uma vez um coreano me disse que tinha absoluta certeza que Taco Bell era um restaurante brasileiro (isso sem contar o Coreano que jurava de pé junto que KFC era acrônimo para Korean Fried Chicken).

Como um país que se fechou para o mundo por mais de 100 anos entre guerras e períodos coloniais, só autorizando o turismo de seus cidadãos para o exterior nos anos 90, existe muito ruído do que é o mundo do lado de fora, mas sejamos francos: o brasileiro médio no máximo sabe quem é PSY e com alguma sorte sabe de onde veio o seu Galaxy s4.



Quais são as dicas que você dá para os brasileiros que querem estudar fora do Brasil?

Evitem duas coisas: 1) O lugar comum e 2) Só andar com outros brasileiros intercambistas.  O que vou falar pode ofender algumas pessoas, mas não é a intenção: acho que jamais teria aprendido e aberto tanto minha mente se tivesse ido para os EUA ou algum país turístico da Europa ocidental. Óbvio, existem instituições maravilhosas nesse lugares e o nosso imaginário coletivo (e o perfil de nossos colegas em redes sociais) é povoado por imagens tentadoras de Eurotrips e similares, mas o mundo é muito maior do que isso.

Nossa proximidade cultural e o número anormal de brasileiros propicia a criação de uma zona de conforto muito perigosa. Não estou falando que todo mundo deve fazer, sei lá, intercâmbio no Camboja ou no Uzbequistão (com todo respeito às faculdades do Camboja e Uzbequistão), mas, a meu ver, quanto mais você se expuser a coisas que você desconhece, melhor. E ir para lugares “não-convencionais” ajuda. Sendo seu sonho, vá estudar em Paris, Roma, Berlim, Nova York, o que for.  Tenho certeza que ainda será o melhor ano da sua vida. Apenas, por favor, tente ao máximo experimentar o que você nunca cogitou antes e não viva em uma bolha.




Cultural

Quais são as diferenças culturais mais marcantes entre o Brasil e o país onde você está?

Os choques culturais foram muitos e de vários tamanhos: a comida apimentada, o hábito de tirar o sapato dentro de casa, aprender o alfabeto coreano (muito fácil por sinal, literamente dá para aprender em 4 horas), entender os níveis de formalidade e hierarquias no cotidiano, o confuso sistema telefónico, o estrito sistema de coleta seletiva (que gera multas altíssimas se desobedecido), a quantidade absurda de álcool consumida nos momentos de descontração (a Coreia é o pais com maior taxa de consumo álcoolico do mundo, ganha do segundo lugar, Rússia, pelo dobro... Soju provavelmente é a pior e a melhor coisa da Coreia).

Acho que a diferença mais marcante seria o forte senso confucionista de comunidade que os coreanos têm: eles estão sempre mais preocupados com o bem coletivo do que o individual ou bilateral. Isso é perceptível nas menores coisas: desde as casas de banho comunais (os jjimjibang <3), como ao se reportar um endereço (se fala primeiro o país, depois cidade, bairro, rua, etc.). Datas também vão por ano/mês/dia (coisas maiores são mais importantes).  cPor exemplo, ao se referir ao colégio , mãe/pai e até esposa/marido jamais se usa o termo “meu”(jeh) , apenas “nosso”(woori). No transporte público, o silêncio é absoluto e ninguém terá problema em te dar um esporro se resolver perturbar a paz do ambiente, uma característica que tem vantagens e desvantagens em comparação com nossa cultura.



Qual o feriado/festa nacional mais divertido/interessante no país onde você está?

O Lotus Lantern Festival, acontece todo mês de Maio em comemoração ao aniversário de Buda.

Como é o custo de vida no país?

É um pouco difícil de definir. Seoul, sendo a capital, não é propriamente barata, especialmente no que concerne aluguel de apartamentos, mas existem várias gratas surpresas no dia-a-dia. Táxi raramente passa de 9,000 won em uma corrida (em torno de 25 reais) e comer fora é sistematicamente mais barato do que cozinhar em casa. Gorjetas são vistas em geral como grosseria e uma refeição típica coreana não costuma custar mais de 6 dólares. Além disso, os supermercados cobram absurdos por igredientes básicos da cozinha ocidental como queijo e pão. Nights são caras se você fizer questão de ir às boates badaladas de Gangnam, mas existem vários distritos (Hongdae, Sinchon e Itaewon) que oferecem bares e casas noturnas com entrada franca (e são muito mais divertidos).



Onde você está morando? Aluguel, alojamento, residência estudantil etc.?

Alojamento universitário que fica a 15 minutos a pé da faculdade. Muito bom, divido com um estudante russo e temos só para nós dois geladeira, microondas, forno, máquina de lavar, um banheiro, etc.


Quais os lugares que você mais gosta de visitar aí?

Hongdae e Sinchon são meus bairros favoritos: melhores nights, restaurantes, lojas, tudo. Anguk tem os melhores museus e maior numero de prédios tradicionais, também é um bairro que curto muito.



O que você mais gosta de comer aí?

Churrasco coreano! <3 Existem boca-livres por 10 dólares em que você pega quanta carne quiser e assa na própria mesa.

Como você se locomove até a universidade ou outros lugares? 

Para a universidade, eu vou a pé. Para todo o resto, o metro é impecável: rápido, barato, conveniente e bem sinalizado (tudo vem escrito em inglês, coreano, chinês e japonês).


Nota da Laís: Essa foto acima foi tirada em um 'Cat Café', 
um lugar onde você pode tomar seu café enquanto brinca com um gatinho. 
O Thiago conta mais sobre esse e outros tipos de cafeteria no blog dele!


Você pensa em ficar de vez no país onde está estudando? Por que?

Só falta a oportunidade.



Qual é a parte mais legal da experiência de estudar fora?


A liberdade e descobrir a diversidade da vida.


***

E aí? Já querem se mudar pra Seul?

Achou a cultura muito estranha?

Tá louco pra ir num Cat Café?

Conta tudo nos comentários!!

6 comentários: