quinta-feira, 9 de julho de 2015

Tidal: Anjo ou demônio?


Olá, pessoal!

Batendo um papo com Laís outro dia decidimos que o próximo tópico aqui da coluna não seria sobre uma pessoa específica.

Nossa celebridade, apesar de não ter pernas nem braços anda dando muita dor de cabeça pra quem quer simplesmente ouvir música na internet. Se você tem um contato razoável com o mundo da música, principalmente pop, com certeza já ouviu falar do seu concorrente mais polêmico: o Tidal!

Se você ainda está um pouco confuso sobre o que ele é o que o anda causando, pode deixar que explico pra você!



No mundo da música atual os serviços de streaming estão ficando cada vez mais populares. É a evolução natural do compartilhamento de música. Se em 2007 usávamos o Emule e o Ares pra baixar músicas com internet discada e banda larga bem limitada, hoje em dia a melhora nos serviços de banda larga e 3G permitem que o usuário escute a música na própria internet de qualquer lugar, de qualquer aparelho sem a necessidade de fazer download.

Um dos primeiros que surgiu no Brasil com essa tendência foi o Deezer, porém como os smartphones ainda não haviam atingido um certo estado da arte, o Deezer ficou relegado às profundezas do computador ou notebook.

O fenômeno do momento é o Spotify.



Imagina que maravilhoso seria poder pagar uma taxa relativamente barata para poder ouvir qualquer artista, baixar as músicas para ouvir offline (quando o 3G der aquela falhada) e ainda poder fazê-lo direto no celular? Pois é, o Spotify permitiu isso. Tá sem grana pra pagar pelo serviço? Tudo bem, não tem problema! O programa possui a opção Free, onde você ainda pode ouvir seus artistas por qualquer aparelho, porém sem poder baixar suas músicas e ainda ter que ouvir uns 30 segundos de propaganda a cada 3 músicas.
Assim, o Spotify ganhou a internet e os internautas e garantiu-se, por várias semanas, como um dos aplicativos mais baixados da Android Play Store e da Apple Store.

Bom, tudo ia bem até alguns artistas começarem a se rebelar contra o serviço. O caso mais famoso foi o de Taylor Swift, que alegou publicamente que “música é arte e por arte a gente paga”. A cantora revelou que sente que seu árduo trabalho não é recompensado pelos serviços de streaming, que repassam cerca de 50% dos lucros para o artista. Assim, inicialmente a gravadora da artista liberou suas faixas para o Spotify, porém as recolheu tempo depois. “Se as pessoas quiserem ouvir a minha música, que comprem meu CD.”



Taylor Swift foi chuvinha perto da tempestade que assolaria o Spotify...

Na vanguarda de serviços de streaming que surgiram para competir com o Spotify, nasceu o Tidal. Inicialmente idealizado pela empresa Aspiro, o serviço prometia tanto quanto o Deezer e parecia ser apenas mais uma agulha no palheiro. O serviço despontou como pedra no sapato do Spotify quando o rapper multimilionário Jay-Z resolveu comprar a Aspiro para poder modificar o Tidal para o mercado de streaming do jeito que quisesse. Como Jay-Z é dono de um império econômico chamado Roc Nation, uma das principais gravadoras do mundo pop, o Tidal seria o primeiro serviço de streaming gerenciado por artistas (e para os artistas como o próprio gosta de salientar). Além de contar com o material do próprio Jay Z, Beyoncé, Rihanna, Kanye West, Jack White, Arcade Fire, Usher, Nicki Minaj, Chris Martin, Alicia Keys, Calvin Harris, Daft Punk, Deadmau5, Jason Aldean, J. Cole e Madonna são os artistas considerados "donos do Tidal”.



A primeira premissa do Tidal é beneficiar mais diretamente o artista pelo serviço de streaming, repassando 75% do lucro do aplicativo, 25% a mais que o Spotify. Além disso, o usuário teria acesso primeiro aos mais recentes clipes musicais dos artistas filiados em HD e o áudio rodaria a 1411Kbps, propiciando uma excelente experiência musical. Em março de 2015, sem planos de subscrição gratuitos, o serviço contava com mais de 580 mil utilizadores e operava em 31 países.

Se você não faz ideia da informação dos Kbps (Kbites por segundo), eu explico: as músicas que ouvimos na internet e fazemos download costumam rodar a 192 ou 320kbps. E cá entre nós, você alguma vez reclamou da qualidade do áudio que ouvia? Provavelmente não. Então, pra que disponibilizar músicas com uma qualidade tãããão alta que nem vai fazer tanta diferença? Lembrando que músicas com qualidade mais alta demoram mais tempo pra baixar também. Temos aqui a primeira pisada na bola do Tidal. O áudio já era bom e “se melhorar estraga”. BINGO!

Além dessa, a aposta de Jay-Z para o mercado de streaming está mostrando outros sinais de fraqueza logo em sua inauguração, que ocorreu oficialmente em abril desse ano. Para começar, o Tidal está com preço mais alto do que os concorrentes e sem versão gratuita. Jay-Z optou por não incluir versão gratuita, com suporte das propagandas por achar que seus clientes não gostariam de ser interrompidos pelas propagandas. Nos EUA, o Tidal está com o custo mensal por cerca de $20, $10 a mais que o Spotify. No Brasil, o serviço chegou timidamente com dois tipos de inscrições, uma a RS15 e outra a R$30.

Para os fãs de música pop, as associações dos artistas da Roc Nation ao Tidal estão dando muita dor de cabeça. Em abril de 2015, Tidal já tinha apresentado exclusivos como o vídeo musical de Die for You, uma canção inédita de Beyoncé, uma previsão do teledisco para Ghosttown de Madonna e a música American Oxygen, de Rihanna. Assim, vários lançamentos esperados de clipes e músicas foram lançados inicialmente no Tidal. E dificilmente sabia-se se seriam lançados livremente na internet. É claro que sempre há aqueles hackers que conseguem vazar a música do serviço, assim como aconteceu com os clipes de American Oxygen, de Rihanna e Bitch, I’m Madonna, da Madonna. Então, questiona-se muito a legitimidade do Tidal em beneficiar seus membros com os mais recentes lançamentos se é apenas questão de dias para que eles vazem na internet.





Devido a isso, o Tidal caiu significativamente no ranking de downloads de lojas de aplicativos, enquanto o Spotify  subiu progressivamente. Críticos de música argumentam que o Tidal não tem o que é preciso para poder despontar no mercado de streaming, que está ficando cada vez mais apertado, agora que a Apple, o YouTube e o Google, serviços já reconhecidos e com bagagem popular, resolveram entrar nesse mercado.



Aí, você se pergunta: porque então o Spotify foi um sucesso? Simples. De acordo com Bob Lefsetz, crítico de música renomado, os proprietários tiveram a cara e a coragem de colocar tudo a perder pra depois poder obter ganhos. A versão paga do Spotify é em parte bancada pelas propagandas, mas a outra parte saiu e sai do bolso dos proprietários, os escoceses Daniel Ek e Martin Lorentzon. Para eles, é mais importante atrair clientes num primeiro momento com a versão gratuita e depois seduzi-los aos poucos a adquirir a versão paga. Assim, o cliente se sente confortável para adquirir a versão paga a sua escolha. No Tidal, o cliente é pressionado a pagar ou não vai ter a música. “A menos que os artistas estejam dispostos a perder milhões de dois dígitos de suas fortunas, o sucesso nunca virá”, afirma Lefsetz.

O grande problema de Jay-Z foi acreditar que seu nome e o dos artistas seriam um peso relevante na hora do cliente escolher o serviço de streaming. Em outras palavras, ele acreditou que as pessoas pagariam a mais apenas pelo fato de o Tidal ser de propriedade dele e de Rihanna, Madonna, Kanye West, Beyoncé. Só que sabemos que não é assim que acontece. As pessoas amam seu dinheiro mais do que seus artistas favoritos. É pura inocência de Jay-Z acreditar que só porque ele é famoso que as pessoas vão tirar 10 dólares a mais da carteira para pagar por um serviço que eles já possuem no Spotify. E a um preço menor.

O serviço também apresentou problemas institucionais. Em abril deste ano, o Tidal perdeu o um de seus CEOs, Andy Chen, quando o mesmo e sua equipe de 25 funcionários foram “forçados” a deixarem o quadro da companhia, segundo fontes ligadas ao assunto. Em seu lugar assumiu o cargo Peter Tonstad, que era o presidente executivo da Aspiro, antiga empresa detentora do Tidal. Em comunicado oficial, a companhia de Jay-Z confirmou as demissões, mas afirmou que as informações sobre a saída dos 25 funcionários estavam "incorretas" e classificou essas demissões como "redundância" e "racionalização" dos cargos.

Agora, menos de três meses após ter assumido o cargo, Tonstand não estará mais na liderança da companhia, de acordo com relatório divulgado pela WSJ. O executivo comentou que a sua estadia na empresa seria breve, já que o cargo de CEO ainda não tem um candidato confirmado. O WSJ diz que os executivos em Nova York e Oslo, onde a empresa está sediada, vão assumir as operações até que um novo CEO seja encontrado.



Questiona-se também as acusações de Jay-Z ao Spotify. De acordo com o rapper, o serviço não remunera diretamente o artista e apenas 50% do lucro é repassado. Recentemente, no Fórum Tecnológico Mundial Anual na cidade espanhola de Las Palmas, Miguel Bañón, representante de comunicação do Spotify, informou que 70% do faturamento do aplicativo sueco é encaminhado aos donos dos direitos autorais, uma forma de combater a pirataria musical. Now, let’s think: se o Spotify é tão injusto como Jay-Z aponta, porque ele continua aumentando seu número de contratos com artistas? Porque não vemos notícias de cantores que se dizem injustiçados com o serviço? Porque os artistas simplesmente não migram para o Tidal?

Enquanto Jay-Z critica o Spotify, vários outros cantores criticam o Tidal, que apontam que o serviço apenas beneficiaria os Jay-Z’s e as Madonna’s da vida e que bandas menores não teriam acesso a esse dispositivo. Marcus Mumford, do Mumford and Sons afirma que bandas maiores tem outras maneiras de fazer dinheiro. “Quando você diz que o serviço é gerenciado por artistas e para artistas, é gerenciado pelos grandes e milionários. Eu não gostaria de me alinhar e isso nem que me pedissem. Não teriam espaço para mim lá. Seria um peixe fora d’água.”

Bem Gibbard, vocalista da banda Death Cab for Cutie afirma que estão tentando causar uma comoção emocional para atrair as pessoas. “O plano é colocar um bando de artistas carismáticos milionários e bilionários num palco e fazê-los reclamar que não recebem bem por sua música. Sabemos que não é isso que acontece. Eles são milionários por um motivo.”

Lily Allen também expressou sua opinião sobre o Tidal no Twitter. Para ela, o “Tidal é tão caro comparado aos serviços semelhantes e de excelente qualidade, que as pessoas não serão tolas ao ponto de pagar a mais só pelos nomes. [Jay-Z] está pegando está pegando grandes artistas e gradualmente fazendo-os exclusivos do Tidal e isso pode encorajar as pessoas a praticar a pirataria”.

Entretanto, apesar de todas as falhas, há um certo crescimento da marca conforme o passar do tempo, com mais de 3 milhões de assinaturas. E quem já experimentou o serviço não tem o que reclamar.

Na minha opinião, é claro que há um certo desgosto pelos serviços de streaming, como Taylor Swift já mostrou. Mas acho que tudo é uma questão de ponto de vista. Como eu disse, o compartilhamento de arquivos na internet está constantemente mudando e o Spotify e o Tidal fazem parte disso. Temos que aprender a tirar o melhor da situação.

Acredito que Jay-Z deva ser mais humilde ao fazer publicidade para o Tidal, não devendo assumir que as pessoas vão aderir ao aplicativo apenas pelo nome dos artistas, como salientei, as pessoas amam seu dinheiro muito mais que seus artistas. Há de haver certa flexibilidade. Vejo o serviço como algo preto e branco, rígido, inflexível, em que se você não quer pagar, te expulsam como se tivessem te enxotando de uma festa.

E no século da espionagem digital, querer manter músicas e clipes seguros em seu domínio na internet é praticamente impossível. Temos os vazamentos aí para comprovar. No final do último ano, Madonna teve que mudar de estratégia depois que 4 músicas inteiras do seu álbum que estava pra sair vazaram na internet. Para acalmar os ânimos, ela lançou uma prévia do seu álbum em dezembro de 2014, com apenas 6 faixas. 
Isso deu fôlego para artista segurar seu álbum até o lançamento oficial, em fevereiro de 2015.

Acredito também que não é questão financeira. Sabemos que todos eles são multimilionários e que deve ser um trabalho enorme para fazer toda a produção musical e visual e sentir que não está sendo bem valorizada. Por isso que há esse fechamento dos artistas no Tidal.

O próximo golpe do Tidal, acredito eu, que deve ser o próximo álbum da Rihanna. Esse álbum está sendo um dos mais esperados desse ano e a cantora vem confundindo o mercado lançando singles de uma hora pra outra, espalhando boatos, tudo no Tidal. Alguns dizem que o álbum já está pronto, mas está bem seguro no Tidal e só vai ser lançado na hora correta. Outros argumentam que o álbum está na sua fase final. Bom, vamos esperar pra ver.

E você? Já teve problemas com o Tidal? Acha que ele é injusto ou acredita que é uma luta justa dos artistas? Deixa sua opinião aqui!

Até mais!


Breno P.

Um comentário:

  1. Arte deve ser paga, e muito bem paga, é verdade. E acho que streaming oferece uma boa oportunidade pros artistas levarem seu conteúdo de maneira mais direta ao público, pra benefício de ambos os lados.
    Mas se tem uma coisa que o povo ama mais do que seus ídolos e seus dinheiros é não ser subestimado e infantilizado.
    O Tidal é ridiculamente pretensioso: dizer que quer revolucionar o contato de artistas e público sendo que os sócios do negócio - e os caras que mais publicam músicas e fazem dinheiro com ele - são os artistas mais ricos, sl, da história. Eles não estão expandindo o contato do público com a arte, estão restringindo. "High fidelity music streaming"... é o quê? Boutique de musica? pfvr né. Para um pouquinho, pensa um pouquinho, quem sabe você não consegue uma ideia realmente revolucionária pro consumo de arte, Jay Z...

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